Uma recente explosão de estudos sobre a mentira procura verificar até
que ponto ela é inerente ao ser humano. Até agora, as conclusões
possíveis apontam que é quase impossível viver sem enganar, tendo em
conta o sentido social de omitir algumas opiniões ou de arranjar
pequenas justificações. Mas, nem por isso se pode dizer que é um impulso
instintivo.
Os psicólogos notaram que, sempre que os voluntários
inventavam uma falsidade, a actividade de dois sectores do cérebro
ficava mais intensa. Ambos ajudam na escolha dos conteúdos armazenados
pela memória e actuam no controlo dos impulsos. Os cientistas
concluíram, então, que as intrujices reprimem a condição cognitiva
natural do homem, que é a da verdade. Ou seja: mentir exige uma
ginástica especial dos neurónios do ser humano.
Mesmo assim, os
especialistas sustentam que a capacidade de dissimular foi se
transformando numa necessidade quase vital. É o que os pragmáticos de
hoje chamam de «inteligência social». E pode até ter influenciado o
desenvolvimento da linguagem.
Calcula-se que as pessoas digam
cerca de 200 «inverdades» por dia. Se é verdade que, em média, as
pessoas mentem 200 vezes por dia, a estatística diz que, um indivíduo
mente a cada cinco minutos.
Alguns cientistas especializados em
biologia da evolução sustentam que o desenvolvimento do cérebro dos
seres humanos está associado à necessidade ancestral — e cada vez maior à
medida que a sociedade se foi juntando em grupos complexos — de
enganar. Ou seja, viver em bando, como atesta até mesmo a observação de
alguns chimpanzés, implica dissimular alguma coisa em algum momento.
Um
estudo feito por cientistas da Faculdade de Medicina da Pensilvânia,
nos Estados Unidos, usou o exame de ressonância magnética para
identificar as áreas do cérebro activadas quando alguém inventa uma
patranha.