Ao fim de cinco dias de intensos
bombardeamentos, as forças do líder líbio Muammar Khadafi conseguiram
esta manhã recuperar o controlo de Zauia, a pequena cidade no Oeste da
Líbia que fora “libertada” sexta-feira passada pela rebelião e com
enorme importância estratégica, a apenas 44 quilómetros de distância de
Trípoli.
[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem] Rebeldes durante os combates em Ras Lanuf
(Goran Tomasevic/Reuters)
A mostra de força necessária para reconquistar esta “porta de entrada”
para a capital do país – onde Khadafi mantém o seu mais seguro bastião
contra a revolta – revela, porém, que as forças leais ao regime têm uma
muito dura tarefa militar pela frente para recuperar todo o terreno
perdido na Líbia Oriental para os rebeldes ao longo destes já 24 dias de
convulsão no país.
Ontem, as tropas do regime relançaram novo
ataque sobre Zauia, envolvendo várias dezenas de tanques, com apoio
aéreo. “Os combates pararam durante a noite. E hoje a cidade está sob o
controlo do exército. A situação era calma e, por isso, aproveitei para
deixar Zauia com a família. Vamos para Jedaiem [pequena localidade a
três quilómetros de distância para Oeste, em direcção a Trípoli]”,
contou um residente da cidade, citado pela agência noticiosa francesa
AFP.
Já desde as primeiras horas da manhã, a televisão estatal
líbia mostra imagens de soldados de Khadafi e apoiantes do autoritário
regime líbio por todas as ruas de Zauia, inclusive na praça principal
que, ainda ontem, era disputada em combate directo com pequenos grupos
da rebelião. A cidade, de cerca de 250 mil habitantes, parecera trocar
de mãos várias vezes nos últimos dois dias, com tanto as tropas de
Khadafi como os rebeldes a reclamarem o controlo do terreno enquanto se
mantinham violentos combates.
Pela primeira vez chegam hoje
também relatos de que as tropas do regime estão a lançar mão também de
ataques por via marítima, sendo testemunhados disparos de
rockets contra as posições rebeldes a partir de barcos posicionados no
Mediterrâneo em frente a Benjawad, na costa do Leste da Líbia, região de
forte produção petrolífera.
É igualmente reportado que
recomeçaram esta manhã os bombardeamentos aéreos contra a cidade
portuária petrolífera de Ras Lanuf, nos limítrofes da região Leste do
país que se encontra praticamente toda debaixo do controlo da rebelião. A
cidade está sob ataque em três frentes: a partir do mar (Norte), do
deserto (Sul) e da estrada a Oeste. Testemunhos locais dão conta que
estão a ser bombardeadas áreas residenciais de Ras Lanuf, assim como a
principal refinaria de petróleo da cidade.
Um dos responsáveis do
comité médico formado em Bengasi – bastião dos rebeldes na Líbia
Oriental – estimou hoje que os combates na região Leste do país causaram
já a morte a pelo menos 400 pessoas desde que o conflito se agudizou, a
17 de Fevereiro, dois dias depois dos primeiros protestos contra o
regime líbio terem eclodido.
Rússia suspende todas as vendas de armas ao regime líbioEm
novo exercício de pressão diplomática sobre Khadafi – a quem a
comunidade internacional insta insistentemente há mais de uma semana que
abandone o poder face à presente revolta popular no país –, o
Presidente russo, Dmitri Medvedev anunciou hoje que o país suspendeu
todos os contratos de venda de armas e equipamento militar à Líbia.
O
diário “Kommersant”, citando fonte do Kremlin, avança que a Rússia –
segundo maior exportador mundial de armas e um dos principais
fornecedores de armamento da Líbia – tinha um contrato de mais de dois
mil milhões de dólares com Khadafi e estava prestes a concluir um novo
acordo, para venda de mísseis antiaéreos e aparelhos militares aéreos,
estimado em 1.8 mil milhões de dólares, antes do início da revolta.
Embora
de enorme montante, e mesmo tratando-se de um gesto importante na
estratégia internacional de isolar Khadafi, esta medida do Governo russo
não terá, porém, efeitos significativos e imediatos no terreno, uma vez
que o regime líbio possui um vastíssimo armazenamento de armas.